quinta-feira, 13 de março de 2008

Roberval

Roberval abriu as pálpebras e deu de cara um com uma Carranca de Porcelana (!?). Com o susto, bateu o crânio na cabeçeira da cama. Levantou-se afagando o cocoruto e observou o quarto. Não era o seu quarto, tampouco algum quarto conhecido. Fedia a mofo, era mal iluminado e bastante pequeno. Procurou pela porta durante 2 minutos, até se dar conta de que não havia porta.


"Como assim não há uma porta?" - ele se perguntava.

Simplesmente não havia. Sabe Deus como Roberval foi parar ali, mas fato é que a sua fuga havia se tornado impossível. E a consciência deste fato só fazia Roberval querer sair dali mais rápido. Ele então olhou para o teto e não viu lustre.

"Como raios esse quarto está sendo, ainda que porcamente, iluminado?" - esbravejou o nobre rapaz.

Voltou-se para a Carranca e viu dois feixes de luz saindo de seus olhos. Confuso, resolveu apanhar o objeto e utilizá-lo como uma lanterna. Era mais pesado do que julgara, e por isso, não aguentou movimentá-lo por muito tempo. Soltou-o no chão, e em questão de milésimos de segundo, a Carranca se espatifou.

Tudo ficou escuro, e agora Roberval caminhava descalço pelo pequeno cômodo, repleto de cacos de porcelana no chão. Era uma armadilha do destino, com certeza. Mas vagando pelo espaço, o rapaz encontrou um pedaço de papel. Forçou a vista, mas não podia ler. Até que, cegamente, tateou o olho da Carranca, e com uma leve chacoalhada, fez surgir novamente o fraco feixe de luz.

Iluminou o papel, e pôs-se a ler:

"Roberval abriu as pálpebras e deu de cara um com uma Carranca de Porcelana (!?). Com o susto, bateu o crânio na cabeçeira da cama. Levantou-se afagando o cocoruto e observou o quarto. Não era o seu quarto, tampouco algum quarto conhecido. Fedia a mofo, era mal iluminado e bastante pequeno. Procurou pela porta durante 2 minutos, até se dar conta de que não havia porta (...)".

Era demais para o seu coração. Imaginar que aquele papel descrevia fielmente o que ele havia passado nos últimos minutos era muita loucura. Mas ele não imaginava, ele vivia aquilo. Roberval mijou-se todo. Depois começou a andar pelo quarto, pisando nos cacos e cortando os pés. Em poucos instantes, sentia um cheiro podre de mijo e sangue, que acometia o cômodo. Estaria ele louco? Teria ele sido abduzido? Estaria ele estrelando Jogos Mortais 10?

Essas perguntas giravam pela cabeça de Roberval, enquanto o cheiro podre lhe dava ânsia de vômito. Ele sentiu uma forte dor no peito, e se deu conta de que estava enfartando. Fez uma expressão horrenda, muito semelhante à da Carranca, e depois caiu duro, sobre os cacos de porcelana.

BUM! fez o desfibrilador em seu peito, e Roberval despertou em 220. Viu a cara embaçada do médico, dos seus familiares e em seguida uma piscada de Carranca. Encheu os pulmões de ar e rescostou-se sobre o leito, aliviado. Ainda tinha o gosto ácido do refluxo na boca, mas pôde sentir o sabor da vida que brotava não sei de onde.

2 comentários:

Hesílio de Freitas disse...

Sábias palavras de meu caro amigo Sgaratti.

Uma estória cheia de surpresas e dor. Um final surpreendente.

Agora é a minha vez.

Ficam os abraços e o desejo de felicidade. Instantânea e Infindável.

Marco Anhapoci disse...

Obrigado pelo comentário no monalisa, Basílio.

Abraço pra você e para o Alyandro!